Apresentação :

Para o povo Iorubá, os orixás são manifestações da natureza. Melhor, eles são a própria natureza: o mar, o rio, as matas, o céu, a terra, a chuva, o arco-íris … Cultuados no Brasil, os orixás são parte de um gigante legado cultural e humano de povos da África, que na diáspora negra, trouxeram seus conhecimentos, heranças que a história tentou apagar.

Esse trabalho é fruto de nossa admiração pelas culturas vindas desses povos e pela cultura caipira, católica sincretizada. É tanta diversidade que não cabe num trabalho artístico !

Ainda assim, arriscamos fazer essa Ciranda dos Orixás em tempos que clamam por respeito, pelo reconhecimento da contribuição inestimável desses povos. A nossa maneira de fazer isso é através da música, inspirada em cantos e ritmos que prontamente foram incorporados pelas culturas brasileiras.

A bênção aos mais velhos, aos ancestrais, a todos aqueles que no suor de seus corpos, nas lágrimas derramadas pela injustiça, chegaram até os dias de hoje ainda clamando por respeito.

Nós queremos somar nossas vozes, nossa música, nossa poesia, às vozes muitas vezes caladas, silenciadas e oprimidas. Não falamos “por” ninguém, mas falamos “com” todos aqueles que acreditam em tempos onde as feridas possam ao menos ser aliviadas pela beleza do encontro com a arte e da linguagem do afeto.

Release: 

Ciranda dos Orixás: quinto álbum reafirma o compromisso com a pesquisa da companhia Tempo de Brincar

Com lançamento do álbum Ciranda dos Orixás, companhia cria pontes entre universo infantil e as mitologias afro-brasileiras. Canções originais trazem ritmos como o ijexá, jongo, samba de roda, dentre outros, e histórias sobre crenças e saberes populares

Os orixás são manifestações da natureza para o povo iorubá. Melhor, eles são a própria natureza: o mar, o rio, as matas, o céu, a terra, a chuva, o arco-íris. São infinitos os orixás, tantas possíveis combinações entre um elemento e outro. Cultuados no Brasil, os orixás e manifestações similares como voduns (Fon) e inquices (Angola/ Congo) são parte de um gigante legado cultural e humano de povos da África.

É desse universo que trata o quinto álbum do grupo Tempo de Brincar, companhia criada há mais de uma década pelo músico e compositor Valter Silva e pela artista visual e atriz Elaine Buzato. O trabalho atual é fruto do compromisso da companhia com a pesquisa, seja através das referências, seja na imersão do grupo por diversos estados e comunidades desse gigante multicolorido que é o Brasil.

Ciranda dos Orixás apresenta canções inéditas compostas por Valter que trazem o rico universo das culturas de matriz africana. As canções com suas sereias, caçadores, guerreiros, trazem essa mitologia na intenção de celebrar o respeito pela ancestralidade.

Repleto de sincretismos, o novo trabalho cria pontes desse universo com a infância, num trabalho delicado e de bastante primor técnico. O álbum conta com 12 faixas que trazem uma variedade de ritmos como ijexá, aguerê, vaci, jongo, samba de roda, batuque de umbigada, ciranda, tambu, maxixe, boi e toada.

“Os arranjos de percussão foram criados pelo músico Barba Marques e dão o tom lúdico junto das melodias com arranjos para viola caipira, acordeom, e vários instrumentos de cordas e sopros”, explica Valter Silva. A participação especial da cantora etno lírica Inaycira Falcão na música Ibeji traz o lirismo contraposto às vozes do coro infantil. “A Inaycira, que é filha do saudoso Mestre Didi, tem a capacidade de aproximar o público das letras cheias de palavras em iorubá e que aguçam a curiosidade inerente à criança”, completa o músico.

Descrevendo poeticamente as relações entre os Orixás e os elementos da natureza, narrando cenas de festas tradicionais e brincadeiras populares, as letras de Valter Silva são como os orìkís – poemas, textos rituais ancestrais, que narram a história de determinada divindade.

“Mas não estamos tratando de crença, até porque o que se chama de religiões afro-brasileiras não obedece a lógica de outras liturgias religiosas que estão ligadas aos escritos, a uma liturgia ocidental, com caráter de doutrinação. Estamos falando de cultura, de influência, de diversidade, desse universo mítico e simbólico que também é o universo da linguagem da infância”, explica Elaine Buzato, diretora de arte e também música da companhia.

Ritmo e cores em celebração

As composições e arranjos levam a um passeio pelos interiores do Brasil como em Tambu pro Saci, música que traz referências ao grupo de batuque de umbigada de Tietê/Piracicaba/ Capivari – região próxima a Sorocaba, interior de São Paulo, onde está a sede do Tempo de Brincar.

No Jongo para São Benedito, o ritmo de palmas convida para a brincadeira e nos leva a um cenário de roça de café. No ritmo de maxixe, a faixa Saudação aos Orixás é um trava–língua sonoro que se constrói com as saudações cantadas pelo coro infantil. Na canção Oxumaré, o ciclo da água na terra aparece na letra que se repete e vai mudando de tom, como se fosse subindo em cada cor do arco-íris, contando a história dessa divindade que também é simbolizada pela cobra e faz a união entre dois planos.

O material gráfico criado por Elaine Buzato tem um cuidadoso tratamento artesanal com delicadas ilustrações feitas em cabaças. Para a cultura iorubá, esse elemento tão importante para construir ritmos, cuias, representa também o mundo. Uma cabaça aberta em duas partes carrega o òrun e o àiyé – o céu e a terra.

O encarte, verdadeiro livro em cores, funciona como suporte didático/poético, contendo também um pequeno glossário com algumas palavras em iorubá. A tiragem preparada para o lançamento vem embalada numa sacolinha de tecido com estampa exclusiva, adornada com búzios e fitas, trazendo uma riqueza de estímulos táteis a mãos acostumadas a tablets e celulares.

Com este trabalho, a companhia Tempo de Brincar dá mais uma passo em direção à sua linguagem do afeto que tenta, de forma lúdica e sem preconceitos, estimular o aprendizado pela diferença e o interesse por outras culturas. Tarefa necessária e louvável em tempos onde o respeito ao próximo parece um sonho cada vez mais distante.

Faixas

1-Saudações aos Orixás

2-Orixás e a natureza

3-Amor e Oxum

4-Oxóssi

5-Oxumaré

6-Jongo de São Benedito

7-Atotô Obaluaiê

8-São Jorge, Ogum

9-Ibeji Omodé

10-O menino e a Sereia

11-Tambu pro Saci

12-Ciranda dos Orixás

Ficha técnica

Valter Silva: composições, direção musical, voz, violão e arranjos

Barba Marques: arranjos para percussão: Agogô, Caxixí, Congas, Pios, Pandeirão, Pandeiro, Mineiro, Pau de chuva, Sementes, Calimba, Vaso, Alfaia, Caixa de ciranda, Triangulo, Matracas.

Júlio Paz: direção musical, piano, tuba (sampler), efeitos, arranjos e vocal.

Elaine Buzato: voz, direção musical, flauta transversal e pífano.

Zeca Collares: viola caipira.

Diego Garbin: trompete.

Beto Correa : Acordeom

Marcel Bottaro: contrabaixo acústico.

Bruno Pereira: trombone.

Luiz Antony: violoncelo e rabeca.

Marco Correa: percussão: agogô, caixinha, alfaia, mineiro.

Alexander Souza: saxofone, piccolo e flauta transversal.

Coro das Crianças: Beatriz Buzato, Maria Clara Leite, Sofia Moris, Maria Luiza, Júlia Paz.

Coro dos marmanjos: Neide Buzato, Elaine Buzato, José Simonetti, Valter Silva, Júlio Paz.

Participações Especiais: Inaicyra Falcão, Mariana Buzato.

Gravação, Mixagem e Masterização: JCP Estúdio / Sorocaba – SP / Voz Inaicyra Falcão gravada no Estúdio Cachuera / SP.

Encarte: Ilustrações, bordados, concepção e direção de arte: Elaine Buzato.

Fotografia: Ricardo Camargo.

Arte do encarte: Leonardo Galepp.

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